(Fonte: http://www.revistaescriva.com/cinco-poemas.html )
8 de dezembro de 2017
alertas
tentando equacionar na matemática da narina
o que é perigo o que não
alertas
os olhos alertas as
patas
alerta ele todo e aceso
queimando entre as vértebras e os músculos
o que é.*
a cegueira do homem que de seu corpo morno
soletra o corpo morno d’outro homem
os sinais as vírgulas
discursa entre duas bocas
e recita, extático e nu, a abrasada
violenta
poesia
que o corpo maquina na carne.
*
o amado que toca os pulsos mornos
de seu amado
e o braço e as mãos
tremulargênteas
e o rosto toca e o sexo
quente e afiado
o amado que toca os pulsos mornos
de seu amado
e sabe de repente o que é um ensolarado riso e
a noite antiquíssima que o olha
de volta.
*
mãos que levantaram-se e caíram
no fluir inadiável do tempo
e dia por dia ano por ano escavaram o tempo
até aqui chegarem
a estas minhas mãos morenas sob este céu transparente
sobre este teclado
mãos que levantaram-se e caíram
nos afazeres
e no fazer do tempo
que ele é por elas feito e elas por ele
engolidas
o trabalho comum que é o tempo
esta conta de vidro
mão por mão gesto por gesto
feito e abandonado como as ondas consecutivas na praia
como o fio que se tece só em parte
tempo
– minhas mãos aquelas também
sob estas.
*
fiapo sequer que escape ao absurdo
que se apresente.