Três poemas de Matheus Guménin Barreto – Revista Zunái, volume 5, nº2 – 18.12.2020

(Fonte: https://www.revistazunai.org/post/matheus-gum%C3%A9nin-barreto )

, o tempo, que é um só e que todo se toca
(o rosto do primeiro homem, o braço da última mulher
o esperma que seca no dia primeiro, as fezes que esfriam na última noite)
como o beijo na palma é o beijo nos dedos
como o beijo nos pés é o beijo no lábio
como o amor é a véspera do amor

*

CERTO PASTOREIO

Não saber se o bicho-morte
pasta estes campos
bebe estes olhos
se caga este morno peito se cheira uns cheiros de rosa brava
nestas mãos
agora.
Não saber se é hora
se a mesa está posta se estará
se chega algum próximo domingo estirado de sol se.
Não saber se chega.

*

TEMPO

Aquilo que possuo e me possui,
e que, se cerco, ergue cercos outros
em torno aos muros fracos, muros poucos,
que ergui; aquilo que constrói e rui
meu corpo; que já traz numa só mão
meu corpo e aquela morte que é a sua
(se cada corpo nasce já com uma),
meu corpo e aqueles beijos que serão
os seus (se morre sempre sem dar todos);
aquilo, ainda, que me tira tudo
e tudo dá a mim; o que procuro,
mas que me encontra sempre e eu não encontro.
Aquilo, enfim, que dá-me o amor de um homem
de sexo em riste – e nos apaga os nomes.

***

Matheus Guménin Barreto (1992) é poeta e tradutor mato-grossense. É autor dos livros de poemas A máquina de carregar nadas (7Letras, 2017), Poemas em torno do chão & Primeiros poemas (Carlini & Caniato, 2018) e Mesmo que seja noite (Corsário-Satã, 2020). Doutorando da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Leipzig na área de Língua e Literatura Alemãs – subárea tradução -, estudou também na Universidade de Heidelberg. Teve poemas seus traduzidos para o inglês, o espanhol e o catalão; publicados em revistas no Brasil, na Espanha e em Portugal.