(Fonte: https://rascunho.com.br/ficcao-e-poesia/poemas-de-matheus-gumenin-barreto/ )
Matheus Guménin Barreto (1992) é poeta e tradutor mato-grossense, um dos editores da revista Ruído Manifesto. É autor dos livros A máquina de carregar nadas (7Letras, 2017), Poemas em torno do chão & Primeiros poemas (Carlini & Caniato, 2018) e Mesmo que seja noite (Corsário-Satã, 2020).
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as ondas roem a manhã:
limpa de morte: um osso
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Juízes, III, 22
as tripas de Eglon rodeiam o braço
de quem o fura as tripas gordura excrementos de Eglon tentam
ainda talvez proteger rei Eglon as
tripas de Eglon dançam para fora de sua barriga
e o por do sol nelas se reflete
delicado
a sala ensombrecida não detém
o amor difícil de Aod
e a tocha esquecida de acender não aponta não aponta
o crepúsculo oleoso aos pés do rei
Eglon
o amor sempre encontra seu caminho
e mãos que o tracem
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Josué, VI, 20
a muralha de Jericó dispersa pelo chão:
cada rosto que se vira
(sombra & fraga
fraga & sombra)
de Seu amor:
cada rosto que se volta
de Seu santíssimo amor
(o anoitecer é rosa e azul):
para longe
do urgente santíssimo amor
(ríctus)
do Deus cocainômano
& só
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o brutal silêncio de Deus:
Seu amor medonho apodrecendo nas mãos
sem quem o colha
sob os ecos do pátio
(é sempre fim de tarde)
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