(Fonte: http://www.diariodecuiaba.com.br/detalhe.php?cod=516569 )
Dois fragmentos do poema longo (ainda em processo) intitulado “Cuiabá”: os fragmentos são “b – O sexo dos dois homens” & “c – Depois do sexo”.
Ambos estarão no livro Poemas em torno do chão (2018, Editora Carlini & Caniato, no prelo).
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Na fresco-gruta
—————–(((refúgio)
concha do não mar fechada à luz despudorada
dois homens maquinam o presente
——————–no corpo um do
————————–outro
agudo o tempo presente
agudo e branco e musgoso e
então calma e nada –
ah – – – ir e vir da onda do mar
onda dum mar inexistente
por isso mais mar.
dois homens maquinaram o presente
(na baía um d’outro o maquinaram)
e não sabem agora onde pô-lo,
ariscos.
lá fora no céu rumina o boi um presente outro
comum e outro
alheio à maquinação do amor.
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O que o amor
fermentou
o que o amor fermentou em peitos
debaixo da sombra fresca de umas casas
refúgio do boi-sol
– do boi-sol paciente e implacável
como no primeiro dia:
(que houve)
: o que o amor fermentou no peito dos homens
essa espuma mar nenhum já espirrou
mar nenhum
essa espuma que o amor fermentou no peito dos homens
mas envergonhados
mas envergonhados limpam eles a prenda dada
vestem seus panos
como se nada houvera, falam
e pisam nos domínios do sol
onde a sombra que viveram e foram
a deliciosa sombra
é engolida em geometrias de luz.