*por Marília Beatriz Figueiredo Leite,
presidente da Academia Mato-Grossense de Letras
(Fonte: http://circuitomt.com.br/ )
28 de setembro de 2017
CRÍTICA LITERÁRIA: No dia 16 de setembro houve o lançamento do livro de poemas “A máquina de carregar nadas”, de Matheus Guménin Barreto. Matheus cursou Letras Português-Alemão na USP, onde cursa hoje pós-graduação em tradução de poesia alemã. A Presidente da Academia Mato-Grossense de Letras, nossa imortal Marília Beatriz Figueiredo Leite comenta aqui o que achou sobre este segundo livro do poeta cuiabano.
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MATHEUS GUMÉNIN BARRETO traz em seu mais novo livro – verdadeira Bíblia Poética – a obra de arte pronta como oferta, como realização de dizeres da Vida enquanto signos da escrita e ícones do silêncio.
Para ela conflui não o saber fazer, mas sim o lançar do sabor de fazer transformador da pura realidade em máquina instauradora das possibilidades – de um real que não se apresenta como NADA, pois persegue e prospecta as possibilidades da produção …
O rumor questionador ou o silêncio prospectivo criam a impressão daquilo que Antonio Candido chama atenção: “…o panorama é dinâmico, complicando-se pela ação que a obra realizada exerce tanto sobre o público, no momento da criação e na posteridade, quanto sobre o autor, a CUJA REALIDADE SE INCORPORA EM ACRÉSCIMO, E CUJA FISIONOMIA ESPIRITUAL SE DEFINE ATRAVÉS DELA”
É dentro desse entesouramento que Matheus G. Barreto vai tracejando, construindo como edifício o seu escrever a identidade da desenvoltura do equívoco em Nada. Inexiste nada em Máquina. O que se retira desse nada é a construção obsessiva e sábia de um poeta em busca da fonte da Ars Poetica, que se impõe com o vigor das questões, “do branco sobre o branco é nada”.
Sinto na poética da máquina, no costurar do autor, no traçar que fagulha do livro, o amor que captura como raiz e que irrompe num frêmito a pesquisa da alma literária, e que como um foguete parte em busca da amplidão de um horizonte literalmente emocional.
Ainda dentro de descrições que apontam infelicidades(?): de um momento para o outro se faz estrutura, e o estilo seduz – retirando de todos leitores e autor a mesma face ou a mesma parte que enfeixa seu colaborar com um universo particularmente uníssono:
“NA ESTREITA BAÍA DO CORPO
a-
Onda: eterna insuficiência,
fadada a sempre cortejar o nunca
sobre uma terra que se lhe foge
perto e inalcançável.”
(BARRETO, Matheus Guménin. A máquina de carregar nadas)
Creio que aqui são lançados dentro da circulação da roda, onde arte, realidade e o Nullit se fundem para, edificados em templo, não se confundirem.
Eis Matheus poeta/mágico, poeta/engenheiro, poeta/filósofo que provoca nestas múltiplas constituições o instalar de um centro de forças que suporta a distribuição do bem poético.
Pois bem “a máquina de carregar nadas “ é a conjuntura de partilhar o pão da poesia bem arquitetada, ou a bíblia de acrescer preceitos de amoressência .
E mais não posso escrever, pois tenho muito ainda a ouvir ‘inside’ Matheus – com belezas.
*ocupante da cadeira n°2 da Academia Mato-Grossense de Letras, Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP e professora adjunta da UFMT-aposentada.
Quase noite da primavera inaugural cuiabana. Setembro de 2017.